ETANOL
O
Proálcool – Programa Nacional do Álcool –, criado em novembro de 1975, é hoje a
expressão mais elaborada das dificuldades de implantação de um programa de
substituição de combustíveis fósseis sob ação dos mecanismos de mercado, que se
seguiram à primeira fase onde prevaleceram os subsídios governamentais. É
também o exemplo mais evidente de como eventuais benefícios ambientais são
apropriados para manter privilégios. Por exemplo, durante os primeiros vinte
anos, o programa foi fortemente subsidiado pelo governo. Em 1996, os usineiros
deviam US$ 4 bilhões ao setor financeiro e US$ 5 bilhões à Petrobrás (Conta
Álcool), dívidas estas que nunca foram saldadas.
Lançado
em 1975, após o primeiro choque mundial do petróleo, o Proálcool foi sendo
aperfeiçoado até absorver 8% da área cultivada do país e criar mais de um
milhão de empregos – 800 mil diretos e 250 mil indiretos – em todo o país
(dados para 1991). Segundo dados da FAO (Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação), para 2005, dos 19 milhões de hectares de cana
plantados no mundo, 5,8 milhões estão no Brasil. Ainda conforme dados para
2005, o país queima, por ano, 6,2 bilhões de metros cúbicos (m3) de álcool
hidratado, o carburante que mistura 96% de álcool e 4% de água. Além disso, são
mais 7,8 bilhões de m3 de álcool anidro que são adicionados à gasolina na
proporção de 22-25% (MME/EPE, 2006). Verifica-se que os volumes de produção do
álcool hidratado seguem a inconstância que marca o Proálcool nos últimos trinta
anos. A crise de abastecimento ocorrida em 1989, marcada pela falta
intermitente do produto nas principais cidades do país, começou em abril de
1989 e não poupou nem mesmo os postos de abastecimento da região de Ribeirão
Preto e Sertãozinho, que concentrava 40% da produção de álcool do estado de São
Paulo, responsável pela produção de 7 bilhões dos 11 bilhões de álcool que eram
produzidos no Brasil. A retomada da produção do álcool hidratado a partir de
2003 se deveu a entrada da produção dos veículos flex fuel, que possibilitam a
utilização da gasolina e/ou do álcool em proporções variadas.
BIOMASSA
Matéria
orgânica de origem animal ou vegetal que pode ser utilizada na produção de
energia hidráulica e outras fontes renováveis, a biomassa é uma forma indireta
de energia solar, pois resulta da conversão de energia solar em energia química
por meio da fotossíntese, base dos processos biológicos dos seres vivos. Uma
das principais vantagens da biomassa é o seu aproveitamento direto por meio da
combustão da matéria orgânica em fornos ou caldeiras. Atualmente, a biomassa
vem sendo bastante utilizada na geração de eletricidade, principalmente em
sistemas de co-geração (produção simultânea de calor e eletricidade) e no
suprimento de eletricidade de comunidades isoladas de rede elétrica. Segundo
dados preliminares do Balanço Energético Nacional (BEN, 2007), a participação
da biomassa na matriz energética brasileira (oferta interna de eletricidade e
combustíveis) é de 30,9%, a partir da utilização de lenha e carvão vegetal
(12,0%), produtos da cana-de-açúcar (15,7%) e outros (3,2%). O potencial
autorizado para empreendimento de geração de energia elétrica de acordo com a
Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) é de 1.376,5 MW, quando se
consideram apenas centrais geradoras que utilizam bagaço de cana-de-açúcar
(1.198,2 MW), resíduos de madeira (41,2 MW), biogás ou gás de aterro (20 MW) e
lixívia, também conhecida como licor negro (117,1 MW). Durante o ano de 2006
três novas centrais geradoras a biomassa (bagaço de cana), entrou em operação
comercial no país inserindo 59,44 MW à matriz de energia elétrica nacional.
O
setor sucroalcooleiro detém a maior capacidade de geração de energia elétrica (2.764
MW), que representa 70% da geração com biomassa, a partir do aproveitamento do
bagaço de cana e da palha em centrais térmicas. O bagaço de cana-de-açúcar é a
biomassa de maior representatividade na matriz energética brasileira, sendo
responsável pelo suprimento de energia térmica, mecânica e elétrica das
unidades de produção de açúcar e álcool, através da produção simultânea de
calor e eletricidade por sistemas de co-geração. De acordo com dados da União
da Agroindústria Canavieira, da potência instalada para geração a partir
de bagaço de cana, 700 MW estão sendo vendidos para as concessionárias de
energia. A previsão do setor é de que na safra 2009/2010 sejam produzidos 560
milhões de toneladas de cana, um crescimento de cerca de 45%, e que a potência
instalada no setor aumentaria em 4.000 MW. Entretanto, ainda existe espaço para
o aprimoramento tecnológico de muitas usinas. Um assunto que há bastante tempo
é apontado como de grande importância para o setor, principalmente por
cientistas e acadêmicos, e que vem agora ganhando força, especialmente em razão
do interesse das usinas pelo mercado de energia, e também devido a questões
ambientais, é o uso da palha da cana.
Segundo
Macedo e Nogueira, foram feitas estimativas quanto ao aumento dos excedentes de
eletricidade para diversos níveis de tecnologias, convencionais ou em desenvolvimento.
Os resultados mostram que a operação com sistemas convencionais de alta
pressão, utilizando 40% da palha recuperada, se implantada em 80% dos sistemas,
com a produção atual de cana, poderia gerar cerca de 30 TWh de excedentes. A
tecnologia mais promissora, que conduziria a um aumento considerável da
produção de energia elétrica, é a gaseificação de biomassa integrada à turbina
a gás (BIG/GT). Ainda não existem processos comerciais. A gaseificação de
biomassa no setor sucroalcooleiro tem sido intensivamente estudada. O setor
arrozeiro brasileiro está concentrado na região Sul do país, onde em 2006 foram
produzidos 7,5 milhões de toneladas, 57% da produção nacional, de 13,2 milhões
de toneladas (IBGE, 2005). A casca de arroz representa 20% (em peso) da
quantidade total de arroz colhida.
O
Brasil possui um potencial de geração de energia de 337 MW, concentrados principalmente
nos estados do Rio Grande do Sul e Mato Grosso. Ainda segundo o Banco de
Informações sobre Geração, da Aneel, existem no Brasil duas unidades gerando
energia a partir de cascas de arroz, com potência instalada de 6,4 MW, e mais
quatro unidades estão aguardando autorização para instalarem mais 25 MW. Nas
usinas termelétricas, a lixívia – resíduo resultante do processo de cozimento da
madeira para produção de celulose, denominado processo sulfato ou kraft – é
utilizada como combustível no processo de co-geração, com capacidade instalada
total de 783 MW, associada às demais fontes de geração própria existentes no
segmento de papel e celulose, que produzem 47% da eletricidade consumida. A madeira aproveitada para a geração de
energia deriva das cascas e aparas das árvores processadas. Nessas unidades a
produção de energia atende de 50% a 80% da demanda
interna, já as unidades que fabricam apenas papel geram apenas 10% da energia
consumida no processo, comprando o restante das concessionárias. Algumas
unidades produtoras vendem o excedente para a rede, como é o caso da Celulose
Nipo-Brasileira S.A. (Cenibra), que desde 2001 deixou de comprar energia da
concessionária e passou a vender cerca de 200 MWh/dia.
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